Copa, patriotismo e rivalidade

Curitiba - Rua XV de Novembro (Foto: @juli_cris - Flickr)


Começo dizendo que simplesmente adoro a @Fabielle por vários motivos. Ela é são-paulina, odeia os Colírios da Capricho (até foi uma das responsáveis pelo @vidadegayroto), fala o que vem na cabeça, tem um blog muito legal e me inspirou a escrever este post que fala sobre coisas que todo mundo discute de 4 em 4 anos. Porque é assim, se não tem assunto, inspire-se nos textos dos outros. E, enquanto eu ia lendo o post dela sobre Copa do Mundo, muitas ideias surgiam na minha cabeça e preferi eu mesma escrever minha opinião no lugar de fazer apenas um comentário quilométrico no blog dela.

Eu sou uma pessoa patriota e não tenho nenhuma dúvida quanto a isso. Amo meu país, acho que este é meu lugar, onde tenho minhas raízes, onde está a cultura que formou meu caráter, a língua que eu tanto amo e me levou a cursar a minha faculdade, um país que eu admiro pela diversidade, por tornar possível a convivência entre católicos, evangélicos, islâmicos, budistas, judeus, asiáticos, europeus, índios e mais quantos tipos você puder imaginar. Acho, inclusive, que aqui brancos e negros têm as mesmas oportunidades. Pra mim, a marginalização tem mais a ver com o status social do que com a cor da pele, ou você não acha que um negro com muito dinheiro também pode desfrutar de muitos privilégios? Mas esse não é o foco, então vou deixar essa discussão de lado (por favor, façam o mesmo). Fico muito revolts com pessoas que possuem banda larga, estudam em escola particular, moram em bairros de classe média, viajam pelo menos anualmente ao exterior, possuem plano de saúde, o video game da moda e ainda dizem que não gostariam de nascer ou morar no Brasil. Filho, você nem sabe o que é passar por dificuldades neste país, se enxerga!

Sim, nós temos defeitos, não sou uma ufanista maluca e utópica que só enxerga a sociedade privilegiada em que eu vivo. Somos o país do futebol, da praia, do carnaval, do “pulmão do mundo” (piada, né), de uma rica diversidade natural, de gente alegre e receptiva, de mulheres bonitas, da Gisele Büdchen, do Pelé, do Machado, do Tom Jobim, do Villa-Lobos, do Santos Dumont, do Lula (yeah, do Lula!), da Zilda Arns; mas também somos o país da desigualdade social, do analfabetismo funcional (que me preocupa mais que o analfabetismo propriamente dito), da mortalidade de bebês nas maternidades, da justiça lenta e para poucos, do jeitinho, do sujeito que quer mais se dar bem e que se danem os outros, da Geisy Arruda, da corrupção, do Collor, do Maluf, do Restart, do Cine, do Fiuk e sua (horrorosa) banda Hori, da Cláudia Leitte, da Susana Vieira, das celebridades de ocasião, dos ex-BBB’s, das mulheres-fruta. Nós temos problemas. Muitos problemas.


Restart: orgulho brasileiro. Not.


Numa coisa eu concordo com a Fabielle: patriotismo de 4 em 4 anos e nada são a mesma coisa. Isso não é patriotismo, é ir com a boiada onde ela vai, é se deixar hipnotizar pelo verde-e-amarelo pintado horrorosamente nos muros. Acho que minha maior contribuição com o país é – pelo menos tentar – votar consciente, acompanhar notícias sobre política, ajudar alguém a achar determinada rua quando me pedem informação, é guardar até o menor lixinho pra jogar na próxima lixeira, é não ficar parada na porta do ônibus porque eu sei que alguém vai querer descer, é usar fones de ouvido porque eu tenho consciência de que as outras pessoas à minha volta não são obrigadas a ouvir a mesma música que de que eu gosto, é não tentar tirar proveito de qualquer situação. Resumidamente, é fazer coisas simples que estão ao meu alcance, fazer o melhor pra poder viver harmoniosamente em sociedade, contribuindo, assim, pra que o lugar em que eu vivo seja um pouco melhor.


Tudo isto posto, reafirmo que eu sou patriota. Além de patriota, sou são-paulina e nunca vou torcer pro Corinthians. Não me importa quem eles estejam enfrentando e pouco me interessa se eles são “o Brasil na Libertadores” (mesmo que isso não aconteça com frequência). Se o jogo for Corinthians vs. Boca Juniors, pode estar certo de que eu estarei cruzando os dedos pra que a bola argentina entre no gol, mas não porque eu gosto da Argentina, e sim porque eu tenho uma rivalidade pessoal com o outro time em questão. O mesmo acontece na Copa. Primeiramente eu vou torcer pelo meu país, independentemente se eu gostar do técnico ou da escalação que ele fez. Torcer, felizmente, não é racional. Também estou c*g*nd* pro fato de que outras seleções possuem mais ídolos que a minha. Normalmente eu assisto jogos de outras seleções porque eu gosto de futebol, sim. Então simpatizar com uma seleção ou outra é perfeitamente saudável e compreensível.

Mas, por favor, não me venha com o papo de que você vai torcer pra um outro país em vez de torcer pelo Brasil. Isso, sim, eu acho uma tentativa miserável de ser do contra e rebelde. A coisa ainda piora quando o argumento pra essa decisão é uma divergência entre quem você queria selecionado e quem o Dunga chamou pra Seleção. É desnecessário, só prova que você tem uma necessidade de chocar quem quer que você ache que se choca com isso. Não é sequer uma questão de ser antipatriota, é de ser bobinho e infantil. A Argentina, a Holanda, a Espanha ou a Costa do Marfim são boas seleções e reúnem seus ídolos no futebol? Ótimo! Mas eu não compreendo quem prefere esperar uma derrota brasileira pra se vangloriar de estar torcendo contra o próprio país. Em vez de se revoltar contra uma seleção de futebol ou tentar usar de sua infinita influência entrando em campanhas pelo Twitter, tente fazer algo útil pelo lugar em que você vive. Nem que seja esperar chegar em casa pra jogar no lixo um mísero papel de bala. Ou vá embora de uma vez e pare de reclamar.


Obs: Caso você não tenha entendido que aquilo lá em cima era um link pro post que inspirou este, repito: clique AQUI pra ler o texto da Fabielle.

Update: Já que estamos falando em Copa e Brasil, a última frase ficou uma vibe super "Ame-o ou deixe-o". Sim, falei antes que alguém o faça.

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