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Não estaremos atendendo ao requisito



Férias, domingão, nada de realmente útil pra fazer e eu decido mandar alguns currículos pra tentar a sorte. Sim, a esta altura eu começo a achar que apenas a sorte pode me ajudar, mas deixemos as lamúrias sobre minha falta de perspectiva profissional de lado. O que importa é o que confessarei a seguir: vi um anúncio para vagas em call Center na Brasil Telecom e mandei um currículo pra lá, assim, só pra ver no que dava.

Por que, céus, eu cometi tal ato de autoflagelação comigo mesma (yes, eu curto redundância)?


Flashback
Um dia minha irmã, também aparentemente sem nada melhor a fazer, mandou um currículo para o mesmo lugar. Foi chamada para a dinâmica e, como não estava interessada na vaga, tocou o terror por lá. Foi super sincera, falou o que deu na telha e, para sua surpresa, no final da seleção foi chamada para conversar com as moças que aplicavam os testes. Foi ofertada a ela uma vaga para trabalhar em loja. Ela só não aceitou porque exigiam que ela fosse sempre para o trabalho de cabelo escovado/chapado, mas como ela tem o cabelo bem cacheado, recusou a oferta.
Fim do flashback


Confesso, eu fui apenas na esperança de que aparecesse algo melhor, afinal eu não tinha nada a perder além da passagem de ônibus. Mas eu saí com algo muito melhor daquela sessão de horror: um pouco de noção sobre a educação brasileira.

A coisa toda já começa divertida. Chego na salinha destinada às pobres criaturas em desespero. Tudo em tom de cinza, preto e marrom, inclusive as pessoas¹. Sabe aquela atmosfera escura, nebulosa, de que alguma tragédia está prestes a acontecer? Eu com a minha blusinha branca coberta por outra lilás de lacinho na lateral da gola destoava completamente do clima macabro.

Então a moça apresenta as (des)vantagens de se trabalhar numa empresa do porte da Brasil Telecom. Ou melhor, na Oi. Agora é tudo Oi, a Oi comprou a Brasil Telecom. Oi. Números, estatísticas maravilhosas (que, para os mais espertos, prova o trabalho de dromedário executado pelos funcionários) e os benefícios. Nessa hora me deu vontade de rir. Salário: R$490,00. Isso mesmo. E o anúncio dizia que existiam outras vantagens, tipo plano de saúde, plano dentário, etc. Mas, a cada uma das opções que você escolhe, uma quantia irrisória é descontada desse salário vergonhoso. Quer plano dentário? Volta aqui pra gente seis reais e noventa centavos. A vontade foi de rir na cara da mocinha do RH da empresa, mas minha curiosidade falou mais alto e eu continuei firme e forte (ela disse que quem não se identificasse com as características da empresa poderia sair da sala e desistir).

Momento decisivo: a prova. Conteúdo: português, algo que eles definiram como matemática e informática. Uma das exigências trazidas no anúncio era ensino médio completo e, confesso, minha concepção de um indivíduo com o ensino médio completo estava completamente superestimada a julgar pelo nível da tal provinha. A parte de português trazia algumas questões de múltipla escolha para assinalar a alternativa que apresentava todas as palavras acentuadas corretamente, mas não eram palavras como “pudica”, “boêmia” e essas pegadinhas que ensinam no início do ensino fundamental pra gente. As palavras eram coisas estúpidas como “mágico”, “máquina”, “estágio”. Reforma ortográfica? Nunca se ouviu falar dela. E a matemática? Hehe. Complete as sequências numérica: 2, 4, 6, 8, 10..., ou 0, 5, 10, 15.... Juro que era coisa desse tipo. Gente, sorry aê, mas me dá essa prova enquanto eu estava na 2ª série que eu gabarito do mesmo jeito, vamos combinar, né. A informática só envolvia comandos do Word e você tinha que reconhecer ícones como “abrir novo documento”, “abrir documento existente” e “organizar em ordem alfabética”. E o melhor estava por vir...

Assim que terminasse a prova de sanidade mental conhecimentos gerais, o candidato infeliz era orientado a aguardar em outra salinha ao lado para esperar pela prova de digitação. Nem preciso dizer que saí da tal prova estarrecida e desacreditando que aquilo era a definição de “ensino médio completo”. Mas, graças ao destino, eu sou uma pessoa tímida e mais ouço do que falo em ambientes desconhecidos, porque minha vontade era de pegar um megafone e berrar para o mundo ouvir:
QUEM É O IMBECIL QUE REPROVA NESSE TIPO DE PROVA?

Olha, mas foi por pouco, muito pouco mesmo que eu não cometo uma gafe histórica. Enquanto esperavam ser chamados para a prova de digitação, os pobres coitados que se submeteram à tal seleção começam a confraternizar (a impressão que eu tenho é a de que todos achavam que sua capacidade de socialização e trabalho em grupo estava sendo julgada desde sempre, mesmo que não houvesse ninguém do RH presente na sala). Então uma criatura da qual eu só posso sentir muita pena diz:

- Eu vim fazer a prova há duas semanas, mas como não passei me telefonaram para vir tentar novamente.

O que pensar? Rio ou choro? E não era uma senhora que tivesse terminado os estudos há muitos anos e se esqueceu da tabuada do 2 ou do 5, era uma menina com seus 20 anos, sem qualquer problema mental aparentemente detectável. E são coisas como essa que me fazem repensar alguns dos meus conceitos ultrapassados e o quanto eu subestimo meus conhecimentos (ou, como já disse, superestimo a educação dos outros). Pra mim, qualquer criança apta a cursar a 5ª série deveria saber responder pelo menos as questões de português e matemática. A de informática nem tanto; eu sei que, apesar da minha realidade incluir banda larga como suprimento básico de vida, nem todo mundo vive conectado, tem Twitter ou lê blogs e sites diariamente. Compreensível no meu ponto de vista. Tanto que consegui segurar o riso quando uma - agora sim - senhora disse que viu o símbolo com um “AZ” com uma flechinha para baixo e achou que fosse “procurar em ordem alfabética”.

Depois houve o teste de digitação com um teclado desconfigurado, ruim, velho e torto (sério, era torto) que consistia em copiar e formatar um texto grudado num papel abaixo do monitor (desespero geral, metade foi reprovada e nem voltou para a salinha onde quem terminava a prova voltava para esperar). E finalmente as apresentações. Nome, idade, onde mora, formação, características aleatórias perguntadas pela orientadora da dinâmica. E aquelas pessoas que mal sabiam a sequência crescente dos números pares dizendo que pretendiam crescer dentro da empresa e virar um monitor ou gerente de call center. Será que eu conto que eles nunca passarão da posição daquele povo que a gente tem vontade de xingar quando somos atendidos ou recebemos telefonemas tentando vender coisas? Como uma pessoa que não sabe acentuar uma palavra básica do vocabulário cotidiano sonha em ter um cargo de superioridade dentro de uma empresa? E não adianta dizer que é só se dedicar, ser bom no que faz e aguardar o resultado. Qualquer um sabe que quase a totalidade dos contratados nunca vai passar de atendente de telefone e, munidos da poderosa arma do gerundismo, assassinos do clássico português.

Na minha vez da apresentação, falei que estava fazendo pós-graduação e fui indagada sobre a razão de estar ali naquela seleção, visto que obviamente alguém assim não perderia tempo com isso. Claro que eu tive vontade de dizer “quero ver até que ponto esta palhaçada vai, é só uma observação antropológica”, mas me contive. Fui sincera, falei que só mandei meu currículo porque não tinha nada melhor a fazer e nada a perder, que nem de longe meu sonho era trabalhar ali e eu tinha sonhos maiores pra mim. Hihihi. Geral me olhando assim O___O

Apesar de tudo, saí de lá triste. Triste por quem termina um ensino médio sem ser capaz de coisas que eu já estava cansada de saber antes dos 10 anos de idade. Triste pela educação do país, pela perspectiva profissional daqueles que estavam realmente apostando seu melhor naquele emprego que paga, sem descontar benefícios, 490 reais por mês. Sem saber se eu que sou inteligente ou os outros que não fizeram o mínimo que se espera de alguém alfabetizado. Muito frustrada por constatar que possivelmente eu desconheço a realidade da maioria dos brasileiros, certa de que essa realidade é tão obscura quanto a atmosfera que encontrei quando cheguei com minha combinação de branco, lilás e lacinho na gola.


¹ Depois de reler eu vi que isso soou estranho, mas eu me referia às roupas, não à etnia das pessoas, que fique bem claro.

Uma vida esportiva nada rinhosa e límpida

Há alguns dias, futucando algumas velharias do meu fotolog cujo endereço eu não passo porque aquilo é parte de um passado negro que eu já esqueci, deparei-me com uma foto minha e de alguns amigos num boliche. Eu não sei porque insisto nesses esportes exóticos já que não tenho talento para eles – os esportes. De qualquer tipo. Qualquer.

Daí lembrei que nem sempre foi assim. Sim, caríssimos, esta que vos fala, atualmente uma sedentária viciada em internet, já foi uma esportista. Infelizmente, minhas boas memórias de práticas saudáveis limitam-se aos tempos da ginástica olímpica, pois no resto eu era um desastre. Na escola, a maior tortura, pra mim, eram as horas da educação física. A frustração era maior ainda porque o resto da turma simplesmente adorava ficar lá fingindo estar levando aquilo a sério, quando, na verdade, estavam todos satisfeitos pela sensação de estarem burlando as aulas convencionais.

O problema é que, como se não bastasse o martírio de precisar jogar basquete sendo baixinha, futsal morrendo de medo de levar bolada na cabeça daquelas cavalas (fala sério, toda turma tem aquele grupinho de altonas burras que se acham “as” esportistas) e handebol mesmo... Nem sabia direito o que era isso, pô! Se quer fazer gol, vai jogar futebol; se quer bater numa bola, já inventaram o vôlei. Enfim, voltando ao princípio, além de tudo isso, havia aquela hora ultra-humilhante da escolha dos times. Obviamente, a anã nerd que só se destacava em português (eu) sabia que só seria escolhida quando restassem apenas as que nem pra tirar nota sabendo a classificação das palavras serviam. Eu classifico esse tipo de episódio na categoria “momentos constrangedores que os professores poderiam evitar e só não o fazem porque os desconhecem ou repetem para descontar a frustração de terem passado pelo mesmo”. Só pode ser isso. Mas quer saber? Era bem melhor assim, afinal a bola nem chegava a mim – qualquer pessoa com o menor espírito competitivo também não o faria. Arriscar a vitória do time a troco de se preocupar em tratar a destrambelhada como se ela fizesse alguma diferença? Not!

Eu só fui à forra quando resolveram incluir atletismo no cronograma da matéria. As atividades eram realizadas em grande parte no espaço do ginásio em que aconteciam as aulas de ginástica olímpica e disso, claro, eu entendia. Ah, mas quase ia me esquecendo de que mesmo nesse campo que já me era familiar a professora conseguiu frustrar minhas expectativas de mostrar que eu servia pra alguma coisa. Neste lugar, havia cordas presas até o teto do ginásio. As meninas da ginástica usavam pra treinar, subiam nele até lááááá em cima e, no fim, tinham que tocar um sininho e tentar descer em espacato, só no muque. É, parece tortura nazista, mas eu nunca cheguei a ser boa o suficiente pra isso. Só subia, tocava o sininho e descia normalmente, morrendo de medo de despencar (nem sei por que, tinha um fosso com muita espuma embaixo). Numa educação física dessas, corri para a fila que tentaria, inutilmente, subir a tal corda. Chegou a minha vez e eu pronta para deixar todo mundo impressionado. Mas bastou uma olhada e a Führer de saias, praticamente certa de que ninguém conseguiria subir 15 centímetros, disse pra eu descer, visivelmente assustada de que acontecesse alguma coisa e ela tivesse que responder por uma aluna abusada que não sabia fazer um gol mesmo sem um goleiro embaixo das traves e estava contrariando a lógica.

Também sempre gostei de patinar, mas, da última vez que coloquei um par de patins nos pés, levei um tombo que por pouco não foi totalmente filmado e virou hit no Youtube. Melhor nem entrar em detalhes. Agora sabem por que estou aqui, dedicando-me a um blog, não ganhando uma medalha e cantando o hino nacional em cima de num pódio.






PS: Claro que o ginásio com “espaço para ginástica olímpica” era colégio particular, né. Eu conheço as escolas públicas também e bem sei que elas mal têm redes de vôlei, imagina então o aparato todo que esse esporte exige.

PS²: Adoro PS’s, já perceberam?

Update: Consegui uma prova de que eu já fui uma ginasta!

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