Loucura, loucura, loucura!

Então vamos parar de dramas e pieguices neste blog feito de postagens esporádicas. Acho que meu forte é mesmo reclamar, sempre me parece ser mais interessante. Felicidade demais ou tristeza demais costumam ser origem dos piores textos que eu escrevo e dos quais eu sentirei mais vergonha futuramente. Portanto, acompanhem.




Podem me acusar de estar sofrendo de algum distúrbio de Peter Pan, mas quem me conhece sabe que eu levo animações muito a sério. É difícil algum filme causar maiores expectativas em mim do que boas animações (exceção para Harry Potter, por motivos óbvios). Em 2010, por exemplo, meu filme preferido foi Toy Story 3. Minha monografia de pós-graduação foi sobre a influência das trilhas sonoras nos filmes de animação, com embasamentos na análise das músicas usadas em WALL-E. O filme que mais marcou minha infância, junto com Os Goonies, foi A Bela e a Fera. Não que eu ache toda animação boa, lógico, mas eu gosto bastante do assunto e não me limito a apenas assistir aos filmes e ficar nisso. Quero comprar os DVDs, quero ter as trilhas sonoras, quero saber quem fez tudo. Um dia, depois de assistir Carros, fui pesquisar quem era o dublador do Mate, que é um dos coadjuvantes mais carismáticos na minha opinião de Pixar-maníaca. Nessa pesquisa, descobri que se tratava de Mário Jorge de Andrade, também dublador do Burro de Shrek, outro personagem que está entre meus preferidos. E essa coincidência fez com que eu me interessasse mais ainda em conhecer os processos de produção de animações.


Ultimamente, a profissão de dublador tem chamado bastante atenção do público em geral. O que antes era mais restrito aos fãs de anime está sendo propagado entre outros nichos e isso é ótimo. Podemos presenciar o reconhecimento de uma profissão à qual antes não se dava tanta importância, mas que agora tem rostos mais que conhecidos por fãs de filmes e séries. Mas isso abriu precedentes para uma estratégia de marketing que nem sempre favorece o espectador, e sim distribuidoras e estúdios cinematográficos: a escolha de artistas “famosos” em vez de pessoas que realmente dedicam sua carreira à dublagem. Isso não está errado, porque dubladores nada mais são que atores que têm na voz a sua forma de interpretar. Se um ator mais popular é competente também na dublagem, por que não? Está aí Orlando Drummond, que é um ícone da dublagem brasileira, pra provar que é possível ser as duas coisas. Alguém contesta a competência de um nome desses para a atuação e para a dublagem?

E aqui vai mais um mas: o problema começa quando o tal ator só é escalado para ter seu nome impresso em fonte maior do que à do título do filme no pôster e chamar a atenção do maior número de pessoas que se interessarem em ir ouvir a dublagem, não assistir ao filme. Então nos presenteiam com escolhas bizarras e somos obrigados a ter que ouvir Luciano Huck como dublador de Flynn Rider, em Enrolados. E todos choram, com razão.

A dublagem de Enrolados é uma das coisas mais mal feitas que eu já tive o desprazer de testemunhar como fã de animações. É um mistério pra mim como a Disney Brasil, reconhecidamente muito exigente com seus produtos, pôde permitir que uma escolha infeliz dessas arruinasse quase completamente um filme. Sinceramente, eu prefiro animações nas suas versões dubladas, elas normalmente são muito melhores, pois há uma liberdade maior em adaptar os diálogos conforme nossa cultura. Raras são as exceções em que o original fica melhor. Nem Shrek, com Eddie Murphy, Cameron Diaz e Antonio Banderas, supera a versão brasileira. Palavra de quem já assistiu às duas versões repetidas vezes. Daí vem a senhora Disney e me obrigada a baixar o filme pra poder assistir a versão original. E depois querem processar sites de compartilhamento de arquivos e torrents! Faça-me o favor.

Luciano Huck não tem a menor capacidade pra atuar, e isso pode ser notado até na forma como ele dubla. Ele. Não. É. Ator. Eu desejo saber, do fundo do meu coração, se alguém responsável pelo processo de dublagem desse filme ouviu isso pronto e decidiu deixar do jeito que estava mesmo depois de ouvir Huck assassinando o personagem lentamente a cada linha de fala. Não tinha um ator melhor e igualmente conhecido pra fazer isso? Seriously? Essa dublagem é uma afronta aos fãs de animação. Pior: o filme é muito bom! Flynn Rider é um personagem ótimo, engraçado, um protagonista interessante. Este é um caso em que a dublagem realmente comprometeu a qualidade do filme inteiro, o que é perceptível mesmo para leigos que não se preocupam tanto com esses “detalhes”. Fui procurar opiniões sobre o filme pra saber se eu que sou implicante demais e descobri que muita gente pensa como eu. Não li uma crítica positiva em relação ao Luciano Huck. Não uma crítica embasada, porque né, sempre tem aqueles fãs que adoram dizer em caps lock que DESCORDO PLENAMENTE!!!! A DUBLAGEN TAVA MARAVILHOSA O LUCIANO HULK EH ECELENTE EU AMO A PIXAR (N.d.A.: eu sei que Enrolados não é Pixar, just for the record). Adoro os filmes da Disney, muitos deles estão entre meus preferidos, mas esse foi um belíssimo tiro no pé. Aposto que muita gente deixou de gostar do filme por causa da dublagem, não pelo enredo em si.

Sério, Disney, por quê? Ouve-se tanto falar que tudo precisa passar pelo crivo dos licenciadores, que se costumam censurar palavras que eles julgam inadequadas para certas idades, que tudo precisa estar dentro de uma lista imensa de critérios... E o filme INTEIRO com uma dublagem indigna para o nível da Disney, ninguém viu? Não faz o menor sentido. Seria realmente o caso de algum responsável dar um retorno ao público, mesmo que para colocar panos quentes e dizer que o Luciano Huck se esforçou muito e deu o melhor de si.

Minha esperança é de que o DVD seja lançado com a dublagem do Raphael Rossato, que chegou a dublar os trailers e todas as canções do filme (as músicas, aliás, ficaram excelentes). Mas se nem toda minha indignação foi suficiente pra convencer, vejam/ouçam vocês mesmos e discordem se tiverem coragem.

Primeiro, o original, com o Zachary Levi (dizem que é um tal de Chuck... Sorry, não vejo)




A dublagem feita por Raphael Rossato, um profissional:



Agora é LOUCURA, LOUCURA, LOUCURA!




Sem mais a declarar.

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