Mídia velha: Rubinho feelings

Principalmente agora que convivo mais próximo de profissionais da área de comunicação (mesmo que alguns sejam bem limitados em relação à essência da palavra “comunicação”. Ainda discorrerei sobre), constantemente me encontro discutindo o papel da imprensa, da crítica, da internet. Principalmente internet. É tão engraçado e, algumas vezes, embaraçoso perceber que ainda tantos profissionais não estão preparados para a velocidade com que se recebe informação hoje.

Digo isso principalmente devido às últimas tentativas da TV em se adaptar à realidade mainstream dos jovens de classe média (ou da classe baixa que frequenta as lans, por que não? É nóis no morro pagando a hora pra surfar na web, mano!). Normalmente a inserção do que faz sucesso na internet chega atrasada às outras mídias e só representa uma novidade àqueles que não estão, digamos, “conectados” tão constantemente.

Esta nova temporada de Malhação é o mais recente e desastroso exemplo. Além da novelinha teen ter investido em divulgar bandas de gosto bastante duvidoso, agora também resolveu incluir personagens de personalidades completamente equivocadas. Gente, agora existe uma menina emo no negócio! Primeiramente, os emos já me parecem ter saído de moda há certo tempo. Eles eram muito zoados populares há um ano ou mais, mas foram substituídos pelos indies, a galerinha descolada from UK, uma geração que percebeu que franja do lado e roupas de estampa xadrez denunciavam-na para a sociedade. Mas nem mesmo a moda indie é hype como antes, outras coisas surgiram, as coisas se renovaram... E se estamos falando de estilos musicais, isso é ainda mais rápido. Hoje é muito difícil um artista se firmar como ídolo absoluto de uma geração. As coisas estão mais rápidas e obsoletas justamente pela velocidade com que as novidades nos chegam. Outra: a concepção de emo da Globo corresponde a uma adolescente retardada que confunde abraço com homeopatia (até isso é velho, já vi essa personagem no Carrossel, seu nome era Laura).

Aí a gente é obrigado a se deparar, ainda hoje, com capas de revista e matérias em jornais de grandes emissoras falando de Twitter como se fosse a grande novidade do ano. Queridos, isso era novidade em 2007, 2008... Hoje em dia, quem tinha que ter Twitter já tem! Quem não tem resistiu ao movimento dos 140 caracteres e pronto. Fora o constrangimento por que passam os famosos nessas redes de relacionamento. A vítima emblemática foi a Xuxa. Tadinha, se esqueceu de que não estamos mais na década de 80, que ela não desce mais de uma nave e nem a vida na internet é doce, doce, doce, a vida é um doce, vida é mel. Pensou que ia chegar botando as face de todo mundo no chão, ganhando faixa de rainha dos baixinhos e blé. Aham, Cláudia, senta lá. Mais recentemente, Luciano Huck, amigo da rainha, passou por situação igualmente desastrosa: reclamou que o Gugu faz quadros plagiados, sendo respondido prontamente pelo diretor da Record. Ah, Huck ainda é moleque, não pensa no que fala e teve que aprender que quem tem teto vidraça de vidro não deve atirar a primeira pedra. Por isso a Globo impõe certos limites aos seus funcionários quanto ao uso de redes sociais. Quem somos nós pra condenar uma empresa a podar seus contratados que desconhecem a selva de bytes que é o mundo binário?

Eu poderia escrever páginas de exemplos aqui. O Gugu só levou a Stephany Absoluta no programa dele quando a garota do Cross Fox já estava bastante saturada no Youtube. Não contente com isso, o SBT resolveu realizar um Esquadrão da Moda com a estrela decadente (episódio em que a piauiense ficou famosa por confundir um signo zodiacal com estado). Os programas da Globo estão abusando na participação popular, pedindo para que o público que ainda atura sua grade defasada mande vídeos caseiros em diversas situações (Garagem do Faustão, Fantástico, Amor e Sexo... preciso continuar?). Mas tudo isso chega com muito atraso à TV e não significa o mesmo para aqueles que não acompanham a informação da mesma forma que nós, viciados assumidos em internet.

Quer dizer, incluir coisas do cotidiano da web é fail para quem já se encontra atualizado, acaba virando notícia old, last week (ou year, no caso do Twitter). E quem não faz questão ou não pode estar 24 horas conectado simplesmente pega os restos da notícia, aquilo que a TV decidiu mostrar porque percebeu que já faz sucesso em outro meio. A conclusão a que chego é de que a imprensa atual é feita de covardes, que necessitam da certeza de êxito da notícia para apostar nela. Profissionais que só exploram uma novidade quando ela já deixou de ser coisa nova. Crepúsculo, Fantástico? Saiba que os fãs dessa série já sofreram mitose espontânea em fóruns de discussão. Lady Gaga? A mulher já está em seu segundo CD, já causou horrores com suas roupas e participações em premiações (quem não se lembra de seu cosplay vela de macumba no VMA?) e só agora vocês dizem para seu público que ela é a nova Madonna? E antes de vocês dizerem que o Twitter era febre, os usuários frequentes de internet já haviam se habituado às baleiagens e isso já tinha virado gíria pra algo que dá errado. Aliás, muito antes de qualquer um noticiar a morte do Michael Jackson, a twitterlândia já o sabia; antes de vocês noticiarem o pouso de emergência do avião no Rio Hudson, os usuários da mesma ferramenta também estavam informados sobre o fato. Vocês estão atrasados, estão sempre correndo atrás da notícia que já é notícia. Não adianta dirigir Ferrari se você nasceu pra ser Rubinho.



Obs: o constante uso de gírias, principalmente em língua estrangeira, é parte da estitlística do texto. Use o recurso com moderação.

Uniban: ponto final

Eu poderia estar matando, eu poderia estar roubando, poderia estar no bate-papo UOL, poderia estar fazendo trabalho de Semiótica, poderia estar lendo livros para o TCC. Mas estou aqui, escrevendo sobre um assunto saturado. Por isso eu peço: créditos, meu povo. E perdão.


“Aluna é hostilizada em faculdade por ir à aula de vestido curto”. Esta é uma das manchetes mais rasas que eu li nos últimos dias, e isso, depois de uma enxurrada de matérias sobre o tal “apagão”, é alguma coisa. Acredito que qualquer brasileiro esteja mais que habituado a ver mulheres de minissaia todos os dias, certo? Nem os curitibanos, que vivem nessa cidade gelada por pelo menos três das quatro estações, fazem escândalo por verem uma moça de trajes mais ousados na rua. Então por que um monte de gente jovem, frequentadores de festas e pistas de dança, seria diferente? Sim, aqui também há quem vá à aula com vestidinho curto quando o calor permite. Diante disso, acho inocência demais dizer que a garota da história apenas colocou os pés dentro da faculdade e começou a ser ofendida. Então as manchetes, além de tudo, contêm certa dose de mentira. Qualquer um que estude orações subordinadas ou saiba interpretar uma (mesmo que inconsciente de que saiba) entendeu a relação de causa e efeito: a aluna foi hostilizada porque foi de vestido curto. Será que apenas eu desconfiei que havia mais do que um vestido rosa no meio?

Não, não acho que o fato dela ter desfilado pelos corredores ou erguido ainda mais a saia já curta justifique todo aquele circo que se armou, afinal ainda estamos falando de universitários (mesmo que sejam da Uniban rs), com idade suficiente para ignorar atitudes de uma garota necessitada de atenção. E ainda acho que ela tem todo o direito de ir com a roupa que quiser onde quiser. O que não é suficiente pra eu achar que ela estava certa, mas tudo bem. Comentando isso, de que vivemos em sociedade e que ela nos impõe certos tipos de condutas, me questionaram se eu hostilizaria alguém por ir de burca à praia caso sua religião a obrigasse, acusando meu tipo de mentalidade como responsável pelo que aconteceu à menina. Pra começar eu sequer ofenderia a garota do vestido rosa, depois que, nesse caso, não se trata de uma diferença cultural, e sim de falta de bom senso. Mas, se é pra fazer o trabalho bem feito, também quebro o argumento de tolerância à diversidade cultural: quem me perguntou isso aprova a mutilação sofrida por meninas de algumas tribos africanas? Isso também é diversidade cultural, o povo delas acredita que a mulher nasceu para gerar filhos, não para sentir prazer. Xeque.

O que mais me preocupa nesse caso, além da preguiça que a imprensa tem em mostrar as duas versões da história, é a tendência que as pessoas possuem em vomitar um discurso politicamente correto de tolerância sem analisar os fatos. Estamos com uma mania tão besta de defender qualquer minoria custe o que custar - inclusive nossa capacidade de raciocínio e análise - que criamos automaticamente toda uma argumentação em prol de qualquer injustiçado e nos esquecemos de que qualquer mínimo acontecimento possui mais de um ponto de vista. A pobre menina saiu aos berros de “puta”? Queimem os responsáveis na fogueira, as mulheres lutaram para que outras mulheres pudessem ser livres e fazer o que lhes dá na telha. Como mulher, eu fico muito ofendida que esses esforços, que conquistaram nosso direito ao voto, ao trabalho, a ter voz presente na sociedade, se resumam ao direito de sair mostrando a bunda dentro de uma instituição de ensino. Nenhuma mulher queimou seus sutiãs a troco disso. Sou contra nudez? Lógico que não. Quer tirar a roupa e ganhar dinheiro pra posar pra uma revista masculina? Fique à vontade, você está no seu direito. Mas saiba lidar com as consequências disso e admita que você o fez por dinheiro, não pelo intelecto (alguém ouviu Fernanda Young?); ou pra chamar a atenção mesmo, não porque as feministas lutaram pelo seu direito de usar seu corpo pra provocar estudantes. Seja honesta!

Agora o espetáculo já está armado: a faculdade já está com o nome (mais) sujo no círculo universitário e intelectual; alunos de outras faculdades que nada têm a ver com a confusão ficam nus como forma de protesto; a vítima está sendo assessorada por um séquito de seis ou sete advogados; a imprensa deu seu recado; as pessoas já podem dormir em paz porque estão indignadas diante de tal injustiça; muitos filósofos opinaram sobre o preconceito e o moralismo em cada um; os alunos da tal faculdade, palco desta palhaçada, foram rebaixados a vermes acéfalos. Enquanto isso, Geisy, que nada tem com isso, estampa uma das páginas do Ego porque mudou o visual e aplicou 70 cm de cabelo natural importado da Alemanha e estuda propostas para posar nua (ela deu uma entrevista dizendo que a mãe tinha desmaiado ao saber do ocorrido, será que ver a filhinha como capa de revista de marmanjo vai deixar ela mais alegrinha? Torço pra que sim). Geisy não tem motivo nenhum pra voltar pro seu cursinho de turismo, por enquanto lucra muito mais estando fora. Esperta.

Idiota é a faculdade que coroou a canonização de mais uma candidata a pseudo-celebridade expulsando a protagonista e voltando atrás em sua decisão. Imbecis somos nós que formamos plateia, que perdemos tempo lendo Ego, que gastamos alguns minutos defendendo ou atacando quaisquer que sejam os lados dessa história e não ganhamos nada com isso. O Brasil não aprende.

Vida de interior

Dedicado a:

Cauê e Bruno, companheiros de tragédias pessoais e que me cobravam esta postagem há bastante tempo.
Breno Pires, que está nos EUA, é leitor fiel e também vez ou outra me incentiva a continuar escrevendo mais do que ele imagina.


* * *


Já começo dizendo que não tenho absolutamente nada contra cidades pequenas, acho ótimo. Gosto é igual braço: insira aqui a piadinha politicamente incorreta de sua preferência (aliás, está aí outro ótimo tema: o politicamente correto acabando com o senso de humor desse país. Mas deixemos mais essa polêmica para outra hora). Mas ninguém pode negar que eu posso falar com propriedade sobre vantagens e desvantagens a que estamos sujeitos quando escolhemos (ou somos arrastados pelos pais a) morar em cidades menores.

Eu nasci em Umuarama, como algumas pessoas adoram me lembrar cada vez que eu falo alguma coisa de suas origens. Não que seja uma vergonha, veja bem. Enquanto eu era criança, me parecia o lugar perfeito: eu podia ficar o dia todo andando de bicicleta na rua e minha mãe nem surtava. Hoje a cidade já tem universidade, uma ótima estrutura para quem não suporta a violência urbana e todo aquele mimimi que minha mãe não se cansa de repetir cada vez que tenta me convencer de que eu seria mais feliz saindo de Curitiba. E, embora a cidade já represente um pólo educacional, ela não tem uma livraria! Não, sério. Não tem. Se um dia algum alienígena te abduzir e resolver te sacanear mandando seus restos para lá (só assim pra alguém parar naquela cidade rs), não se engane: o que eles chamam de livraria por lá nada mais é além de uma banquinha de revistas, no máximo uma papelaria. Os únicos livros que você encontrará são os do Augusto Cury, Paulo Coelho e Zíbia Gasparetto.

Uma vez, entediada que eu estava na casa da minha avó (falo desse lugar logo em seguida, não perdem por esperar) e aproveitando que meus parentes fariam uma visitinha à cidade (sim, Umuarama é o shopping das redondezas!), resolvi comprar o segundo volume de Senhor dos Anéis. Gente, vamos combinar, quer livro mais moda que esse? Não é nenhuma escritura sagrada trancafiada a sete chaves na Basílica de São Pedro. Mas vocês precisam ver a reação das pessoas quando eu entrava em alguma “livraria” e perguntava por este título. Era como se eu estivesse pedindo algo sobrenatural ou qualquer coisa da Stephenie Meyer (não que seja desconhecido, longe disso, mas é algo que eu não recomendo a ninguém). Era inacreditável que a prefeitura daquela cidade desse a alguém um alvará de funcionamento de uma livraria sendo que nos perímetros que a cercam não é possível comprar Senhor dos Anéis.

Falando em divertimento, deixa eu falar o que as pessoas na cidade das minhas avós¹ (e dos meus pais consequentemente) consideram divertido. O que você, jovem descolado e antenado ao mundo mainstream, faz para sair da rotina? Ok, concordo que para muitas pessoas shopping não representa significativamente sair da rotina, mas normalmente se vai ao cinema, ao McDonald’s, no Bob’s tomar aquele milk shake de Ovomaltine, parque e baladinhas (aliás, vamos nos atualizar, Word? ‘Tá cheio de sublinhado vermelho aqui! Esse programa não conhece palavras como “antenado”, “Milk shake” e “McDonalsd’s”, que horror!). Nem que seja pra ir ao Silvio Lanches²! Qualquer lanchonete ou barzinho serve para espairecer e conversar com os amigos. Bem, mas o povo daquela cidade não faz nada disso. O hype lá é se arrumar como se estivesse indo para a última balada da vida com o objetivo de acertar o maior número de alvos (note o eufemismo para pegar), tudo na maior curtição, como se não houvesse amanhã. Essa gente descoladíssima nem salão pra isso tem! O lugar do encontro da galera é a avenida principal (e única) da cidade, uma faixa de uns 200 metros de paralelepípedos onde o pessoal top estaciona os carros comprados com a venda da última colheita de algodão. O som fica por conta dos botecos bares, que espalham pela calçada mesas de metal (um oferecimento Kaiser, Skol ou qualquer uma dessas cervejas aí) e vendem mais que água no deserto, afinal essa é a única diversão de fim de ano dos nativos e de quem tem a infelicidade de passar as festas por lá.

Eu estou pouco ligando pra violência! Violência é ter que observar essa realidade triste e fingir que está gostando. Sim, porque sempre tem um pra convidar você pra dar uma passadinha lá e ver como a vida no interior pode ser tão badalada quanto na capital. Ê, trem bão! Daí você chega lá naquele antro de perdição e encontra pelo menos umas vinte pessoas que vão te encarar e soltar clichês como “você não é daqui, né?”, “você não é filha do fulano?”, “eu conheci sua mãe no ginásio”, “você não deve se lembrar de mim, mas minha avó foi professora da sua tia”. Ah, como me irrita essa mania de quem mora em cidade pequena querer conhecer todo mundo. Privacidade? Ela não pôde chegar até lá porque a estrada esburacada não permitiu. Noção? Bêbada, certamente fazendo questão de chamar atenção das cinco mesas em volta sem perceber que está sendo totalmente ignorada.

Não, essa vida não é pra mim. Você conhece melhor os vizinhos? Conhece, mas eles também conhecem você bem até demais. Você tem mais segurança para voltar para casa de madrugada? Sim, mas sair pra ficar desfilando de Scarpin rua acima e rua abaixo naquela calçada beirando 50 anos sem passar por uma reforma? Ah, mas sempre tem uma locadora pra alugar um filme. Pois eu juro pra você que o lançamento do momento deve ser Harry Potter e a Câmara Secreta. Ah, mas a cidade é quente e dá pra sair e tomar sorvete italiano, daqueles de máquina e sem gosto. Não, obrigada.




¹ Nome ocultado pela minha própria segurança. O povo de lá já não vai muito com a minha cara já que eu nunca fiz questão de esconder minha insatisfação com os fatos mencionados.
² Menção honrosa ao maior point de Barbacena, cidade do @brunoessm.

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