Música para os ouvidos



Call me obsessiva (achei “chamem-me” feio para começar um parágrafo, desculpa, língua portuguesa), mas, sim, falarei da Adele. Pensei várias vezes em escrever sobre ela, mas sempre me segurava, afinal eu venho falando dela há meses, já é a artista mais ouvida no Last.fm, vivo repetindo como não posso morrer antes de assistir a um show dela pessoalmente. Sinceramente, eu gosto dessas paixões doentias por alguma coisa. Sou muito de extremos: amo ou odeio.


Adele está aí para que todo mundo veja desde 2008, quando lançou o ótimo 19 – que eu só notei que era ótimo depois de me apaixonar pelo 21. Ganhou 2 Grammy, muita notoriedade, mas eu só ouvi o CD poucas vezes e vida que segue. Mas eis que, no início deste ano, assisti à seguinte apresentação:



Não preciso dizer que isso despertou em mim algo que eu não sentia por um artista há muito, muito tempo. Não sei exatamente nem se já tinha sentido. O que eu vi foi mais do que uma apresentação linda e uma música tocante. É possível perceber facilmente que ela sentia cada palavra que dizia, que aquela letra significava algo para ela. O que eu enxerguei foi sinceridade. E foi algo tão arrebatador que eu imediatamente fui procurar o CD para perceber que todo ele continha essas letras tristes, sim, mas verdadeiras como pouca coisa que eu por acaso já tenha ouvido na vida.

Outra coisa que me encanta na Adele é a simplicidade com que ela transforma suas apresentações em performances grandiosas. É como emergir de um mergulho sem cilindro de oxigênio, sabe? Escapar de um ambiente claustrofóbico para o ar puro e dar uma boa respirada. Não tenho nada contra artistas que usam muitos efeitos, fantasias e um palco cheio de distrações reluzentes, até gosto de alguns deles e realmente acho, hoje, que Lady Gaga (só para citar um exemplo) tem muito mérito no sucesso que faz. Entretanto, foi com alívio que eu assisti a várias apresentações da Adele. Sem efeitos, sem dançarinos no palco, sem roupas espalhafatosas, sem clipes polêmicos, apenas ela e sua música numa harmonia difícil de se ver no atual mercado fonográfico.

Mesmo caindo no óbvio e falando do que todas as resenhas sobre Adele já citaram, também chama atenção o biótipo nada típico que Adele exibe. Não que isso seja relevante a qualquer profissional (a não ser que você seja modelo), mas é difícil fazer tanto sucesso sem estampar capas de revistas mostrando um corpo desejável, seios siliconados, bumbum durinho sem celulites. Adele se difere de tudo isso. Gordinha, quase sempre vestida elegantemente com seus modelitos carregados de negro, cabelos e uma maquiagem retrô, sempre discretos. O que poderia representar uma desvantagem acabou se mostrando uma arma: a internet está cheia de tutoriais de moda e maquiagem sobre o estilo da Adele e muita gente procura imitar as produções da cantora. E como não querer imitar seu estilo? Parece que tudo nela se encaixa, tudo é perfeito do jeito que é.

Como se não bastasse, Adele sabe cantar! Como ela ousa ser uma cantora que realmente canta? Ela não entende que já inventaram inúmeras possibilidades de mascarar uma desafinação? Aliás, música é para divertir, não para levar a sério. Quem se preocupa com os talentos vocais de uma cantora hoje em dia? Bitch, please! Bem, não vou nem comentar sobre a simpatia que ela demonstra nos shows.

Apesar de tudo o que eu falei, o que realmente me encanta na Adele é a sinceridade que eu citei. Assistir às apresentações dela e ver que, em inúmeras, ela de fato se emociona é de deixar qualquer um apaixonado. Ela não chegou àquele palco porque uma grande gravadora enxergou nela uma possibilidade sólida de transformar alguém em sucesso, mas porque ela realmente ama o que faz e sente o que diz. Por isso tanta identificação com ela: Adele canta o que se passa no coração de muita gente que não sabe como se expressar. E mesmo que não se sinta o que Adele sente, ela convence de tal forma (porque é verdade!) que a empatia é imediata. Ame ou odeie, mas é necessário reconhecer que ela é uma artista na melhor concepção da palavra.

Eu já estava saturada de produtos criados artificialmente, de gente que se diz cantor(a) e não canta, de fantasias, de plumas, de luzes. Adele é um descanso aos ouvidos, um oásis de legítima arte em meio a um mundo carregado de tecnologia e carente de verdades e ideais (não que frustração amorosa seja ideal, acho que deu para entender perfeitamente). Adele representa sobretudo a esperança de que ser você mesmo e acreditar que isso é bom pode trazer reconhecimento; que nem só de gente magérrima, com pouca roupa e autotune se faz música quando o foco principal é, de fato, a música.

Parem com as comédias românticas!


Inspirado em uma conversa com o Ti.



Querido diário,



Hoje fui com a Ju assistir a um filme que estreou nessa semana e ela queria muito ver. Era um filminho de amor/comédia meio bobo, mas ela queria muito ver. E, saindo do cinema, cheguei à conclusão de que eu definitivamente prefiro filmes de aventura, terror, fantasia... Qualquer coisa, menos comédia romântica. Comédias românticas são a coisa mais idiota do cinema, e eu vou dizer por quê.


A Ju acha fofo como as coisas acabam sempre bem, com uma trilha sonora alegre no fundo. Ela diz que dá uma sensação de esperança, de que ela ainda vai mudar o status do Facebook dela para “em um relacionamento sério” (daí para “noiva de” e de lá para “casada com”). Mas eu digo que isso só vale se você não for a outra parte da história, a que foi abandonada praticamente no altar para que o casal protagonista fosse feliz para sempre.

Pensa comigo. Toda comédia romântica não segue uma fórmula? Sempre fala de um homem e uma mulher que 1) se conhecem desde sempre, mas não percebem estar apaixonados; 2) se conhecem em uma situação em que nenhum dos dois gosta um do outro e acabam se apaixonando. O problema começa aqui: qualquer menina romântica pode escrever roteiro de filme assim, porque o começo e o final são sempre os mesmos. O meio da história muda um pouco, mas as pontas sempre são as mesmas.

Esse filme que a gente foi assistir, por exemplo, começa com um casal... opa, no começo eles não são casal, é só no final.... Enfim, começa com um homem e uma mulher que são amigos, ela dá pequenas demonstrações de que TÁ QUERENDO, e o cara nem tchum. Normal, homem demora pra perceber essas coisas mesmo (babacas!). Mas aí a mulher vai cuidar da vida dela, porque afinal não pode ficar esperando o lerdo tomar atitude, e vai embora. Então ela conhece outro cara, que pede ela em casamento e aí a gente já sabe o que acontece. O babacão lá do início percebe, FINALMENTE, o quanto a mulher era importante para ele e fica desesperado porque vai perder o amor da vida dele para um WHO qualquer que apareceu só depois dos 30 minutos iniciais de filme.

Não é injusto que tudo dê certo pra esse idiota? Enquanto ela estava disponível, nem percebia a menina fazendo de tudo por ele. E, quando ela consegue um marido pra chamar de seu, vai o cara atrapalhar a vida dela. De novo! E o ex-futuro-marido era rico, lindo, gostoso etc. Tadinho. Ele não tem culpa! Ele também merece ser feliz! Ou seja, comédias românticas não contam o tempo que a pessoa chutada pros créditos finais do filme gastou chorando, ouvindo música triste, odiando cada casal feliz que encontrava pela rua até conseguir superar a humilhação de ser trocado por outro(a) na prorrogação. QUE MUNDO É ESTE?

Além disso, incentiva aquele velho hábito que quase todo mundo tem de só dar valor ao que possui depois de ver escapando entre os dedos. Para mim, a mulher tinha que se apaixonar DE VERDADE pelo segundo cara e sambar nas fuças do primeiro, com direito a “baba, baby, baby, baba, baba” de trilha sonora. É pra torturar duas vezes mesmo: sentimental e musicalmente. Ele deveria ter ficado com a lição e aprender a olhar para o lado da próxima vez que uma garota legal desse condição. Você ignora sua alma gêmea durante toda a vida e basta chegar na hora do “quem tiver algo contra este matrimônio que fale agora ou cale-se para sempre”, tomar a noiva nos braços e ter seu final feliz? QUE MUNDO É ESTE?

Sério, comédia romântica só prova de que quem não merece acaba se dando bem e que gente apaixonada tem memória curta. E que você pode curtir sua vida à vontade enquanto a pessoa que você ama de verdade não tem um anel de compromisso no dedo. A partir daí, sim, você precisa se espertar. Mas para que perder tempo antes, não é mesmo? O outro idiota vai estar sempre esperando você adquirir a capacidade de reconhecer de quem você realmente gosta, então tudo bem.

Por isso eu prefiro aventura. Pelo menos eu sei que não vou ser morta por um monstro marinho ou carros que viram robôs gigantes.


Até a próxima,


Nanda.

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